Mandacarus
(Patuá 2025) Vendas
Uma
Obra que Surpreende pela Originalidade
Por
Daniel Barros *
Iniciei
a leitura com certa reserva. Tendo acabado de ler A Representação Social do Cangaço, de Rosa Maria Bezerra, e Cangaceiros
e Pedra Bonita, de José Lins do Rego,
receava uma abordagem repetitiva ou convencional do tema, tão marcante no
romance dos anos 1930.
Leonardo Almeida Filho, no entanto, surpreendeu-me com um
romance esplêndido. Embora dialogue com temas semelhantes, destaca-se pela escrita
original e vanguardista. A obra não
apenas revisita o universo do cangaço, mas o faz de modo inovador, propondo novas perspectivas sobre personagens, conflitos
e contextos históricos.
O
autor demonstra rara habilidade narrativa, equilibrando rigor histórico e
intensidade literária. Cada capítulo revela nuances que desafiam o leitor a
pensar além do óbvio, criando uma experiência envolvente e reflexiva.
Leonardo
Almeida Filho também nos leva a refletir
sobre nossas origens. O uso de expressões regionais é preciso e abrangente,
resgatando termos que se perdem com a globalização cultural. Confesso certa vergonha
por tê-los esquecido; o romance os documenta
de forma harmoniosa, integrando-os naturalmente à narrativa.
O
vanguardismo do autor se manifesta em capítulos construídos como parágrafos únicos — não por efeito
estilístico, mas pela ausência da necessidade de subdivisões, tão comum em
textos contemporâneos voltados a linguagens comerciais. Essa estrutura liberta a narrativa de amarras, evidenciando
que a verdadeira arte cria, não repete. Em uma perspectiva moderna, pensadores
como Jean-Paul Sartre e Albert Camus viam a arte como um ato de liberdade e de
criação de sentido em um mundo considerado absurdo; Léo nos mostra que, mesmo
em um tema já tão explorado, é possível renovar
a experiência de leitura com beleza e intensidade.
Se
você, como eu, já leu sobre cangaço, seca e êxodo, e teme a repetição, prepare-se
para uma grata surpresa: este livro
renova o olhar sobre um tema rico e complexo, impondo-se pela originalidade e
força narrativa.
*Romancista, contista, pós-graduado em segurança pública e policial há 28 anos.
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