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terça-feira, 30 de julho de 2019

Canto escuro - Por Raphael Prestes

https://www.editorapenalux.com.br/loja/canto-escuro
Como não se interessar de imediato por uma leitura carregada de um tema tão atual, como a corrupção de agentes públicos? ‘Canto Escuro’, obra do autor Daniel Barros, não deixa dúvidas de que a literatura nacional é representada por gênios. Escrevo minhas impressões sobre esse livro ainda com o coração comovido pelos sentimentos que as palavras dele me causaram. O início do livro começa quase que pelo final, me deixando completamente preso à narrativa (como curioso compulsivo que sou).
Um servidor público, chamado Paulo Henrique, lotado no setor de compras de um órgão governamental, se vê inconformado ao se deparar com um esquema de corrupção, que futuramente se mostrará muito maior do que se aparenta inicialmente. Procurando assim, as autoridades competentes para investigação do caso. Em paralelo, há um enfoque muito grande na vida pessoal de Paulo, que nem sempre apresenta o mesmo comportamento idôneo da vida pública, no que diz respeito aos seus relacionamentos amorosos. Essa obra me fez perceber o óbvio, somos todos seres humanos sujeitos a erros e acertos na vida. 
Alguns romances acontecem no decorrer do tempo com Paulo. Prostitutas que se encantam com seu jeito viril, mas ao mesmo tempo empático e sensível. Uma agente pública, noiva de outro homem, que se apaixona por seu lado romântico, declamador de poesias clássicas. E por fim, apaixona-se por Diana, mulher ciumenta e possessiva, já esboçando sinais de tal comportamento durante o namoro, mas relevados por Paulo, pois estava cansado de levar uma vida superficial, regada por muito álcool e sexo casual.
As investigações sobre o caso de corrupção denunciado se prolongam no tempo, e nesse ínterim, Paulo casa-se com Diana, com quem tem um filho. Mas o matrimônio idealizado por ele vai por água abaixo, à medida que o ciúmes de sua esposa só piora, sem contar o tratamento de indiferença da mulher com o próprio filho.
Quando um policial infiltrado na organização criminosa é morto, as coisas ficam tensas. O estresse causado pela situação é transmitida com intensidade pelo autor, como se vê no episódio quando Paulo está na copa da repartição pública, com lágrimas nos olhos, recebendo uma xícara de chá e um beijo na testa de uma senhora, responsável pela limpeza local.
No desfecho, quando os responsáveis são presos, a sensação de alívio e satisfação de dever cumprido nos invade. Talvez pelo que vivenciamos todos os dias ao ligar a televisão e abrir os sites de notícias, quando nos deparamos com tanta corrupção.
Paulo Henrique precisa lidar com situação que nos levam a uma reflexão profunda sobre a vida e os sentimentos que ela traz. A exemplo de quando ele decide se separar da mulher problemática, então esta abandona o filho, simplesmente deixando um bilhete na porta de casa. Horas mais tarde, enquanto comemorava o Êxito das investigações criminais, Paulo recebe a notícia de que Diana estava morta, vítima de um acidente.
Este livro é intenso, no sentido de que a cada página você se depara com um sentimento diferente, podendo ser o humor, raiva, tesão, inconformismo, tristeza, etc.; entretanto, nunca o tédio.

Raphael Prestes 

Obs: A publicação origianl foi feita no blog: https://rjprestes.blogspot.com/2019/05/minhas-impressoes-do-livro-canto-escuro.html, Infelizmente e não sei o motivo foi bloqueada no facebook, por isto republico aqui. 

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A máscara de Flandres - por Daniel Barros

A MÁSCARA DE FLANDRES

DANIEL BARROS*

     A máscara de Flandres, Editora Giostri, 2017, 188 páginas, da escritora Cristiane Krumenauer nos apresenta um enredo bem construído, narrativa composta com esmero e uma história que se passa em duzentos anos, o que nos proporciona uma longa viagem. 
Tudo tem início no século XIX, quando Geraldo Medeiros, filho de um Barão do café em uma pequena cidade do interior de São Paulo, torna-se o perpetrador de uma série de crimes praticados contra negras escravas. Não lhe bastava matá-las, havia ainda que torturá-las e estuprá-las. Ora, caro leitor, não é preciso dizer-lhe qual a punição recebida pelo jovem sinhozinho, pois se, nos tempos de hoje, há quem defenda a tortura e não seja execrado, imagine naquele tempo. 
     Já no século XXI, a autora nos apresenta Alice Stoifeld, investigadora dedicada, que sofre preconceito machista de seus pares e superiores na delegacia onde trabalha. Certa manhã, Jackson, um policial militar, único com quem a policial tem uma boa relação, leva-lhe a notícia de um possível arrombamento no museu da cidade, a antiga Casa-grande da família Medeiros que, com o passar dos anos e pela ampla repercussão dos crimes ocorridos lá, tornou-se palco onde eram exibidos os instrumentos utilizados por Geraldo Medeiros na morte e tortura de suas vítimas, bem como toda a história por ele mesmo narrada, em um volumoso diário de capa de couro. Um ponto forte na construção narrativa de Krumenauer é uma história dentro de outra história, como se lêssemos dois livros que se entrelaçam para compor um único e belo enredo. Ao diligenciar o museu para verificar o suposto crime, Stoifeld constata, para sua surpresa, que houve o furto de todos os instrumentos de tortura e também do monstruoso diário; porém mais nada foi levado, apesar de relíquias valiosas constarem do acervo daquela entidade. E, enquanto o delegado, o prefeito e a curadora do museu se preocupavam com a ação de “vândalos”, a jovem investigadora com aguçado tirocínio policial, apesar da pouca experiência, tinha outros temores... entre os quais, que surgisse, dois séculos depois, outro “Geraldo Medeiros”. 
Cristiane Krumenauer
     Todos os elementos para um clássico policial estão presentes no enredo, mas Cristiane não é uma simples escritora e mais uma vez nos surpreende. Paralela à investigação do furto e de suas consequências, a autora mostra a vida pessoal da investigadora Alice Stoifeld, seus anseios e conflitos, fato que traz o leitor para dentro da história, além de proporcionar uma forte empatia com a personagem, o que foge dos clássicos e distantes investigadores do passado, onde os protagonistas figuravam como verdadeiros heróis, quase inatingíveis. 
     Por fim, caro leitor, apenas algo chama atenção negativamente: a péssima edição da Editora Giostri. Uma edição em letras miúdas e que, apesar da riqueza do enredo, poderia inspirar uma belíssima capa, mas, ao contrário, oferece-nos uma capa opaca e de difícil compreensão. Tal edição pode até afastar leitores menos experientes, ao se depararem com o presente volume. Entretanto, não conseguirá tirar a magia da criação literária que nos oferece Cristiane Krumenauer. Não tenho dúvidas de que A máscara de Flandres terá lugar de destaque em sua biblioteca, na estante de romances policias. 
Boa leitura!
*Romancista, contista, pós-graduado em segurança pública e policial há 22 anos