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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Alexandre Santos - Daniel Barros na vanguarda da nova arte literária -

 Daniel Barros na vanguarda da nova arte literária

Alexandre Santos *

Daniel Barros



Estamos prestes a viver um novo momento da arte. 

Desde o ano passado, com o advento da pandemia do novo coronavírus, muita coisa mudou e vem mudando neste mundo de Deus. Basta olhar em volta para se perceber a mudança. O guarda-roupa das pessoas introduziu a máscara na indumentária do dia-dia; o uso dos aparelhos, aplicativos e programas de conectividade foi intensificado para movimentar agendas de trabalho e de lazer, mobilizando pessoas que, mesmo sentindo falta do olho-no-olho, dos beijos e dos abraços só possíveis os encontros presenciais, terminam por admitir a comodidade e a segurança das reuniões remotas; o convívio vem sendo desfalcado pela ausência das pessoas convertidas pelo vírus mortal em sofridas lembranças póstumas de amigos e parentes ou em números nas frias estatísticas do desastre; mesmo desrespeitadas por muitos, a ciência e a tecnologia deram provas da sua capacidade de enfrentar catástrofes e de criar drogas, vacinas e defensivos sanitários contra as ameaças; a Humanidade perdeu mais uma grande oportunidade de dar chance à solidariedade frente ao egoísmo e os desníveis sociais e econômicos recrudesceram, tornando ricos mais ricos e pobres mais pobres; os lockdows, eventualmente determinados pelas autoridades, deixaram de ser novidade, esvasiando ruas e fechando lojas. Coisas como estas se incorporaram ao cotidiano, levando a que, com razão, muitos afirmem que, estabelecido um Novo Normal, o mundo jamais voltará a ser como era. 

Ora, se o mundo jamais voltará a ser como era, por que a Arte continuaria a ser a mesma ou, mais ainda, [por que] os artistas se manteriam inertes diante das mudanças, assistindo o passar da história, como se nada estivesse acontecendo? Na realidade, ao impor graves ameaças à vida e à liberdade - grandes motores da criatividade artística -, a pandemia instiga os artistas, impulsionando-os a criarem novas fórmulas e novas formas de descrever o mundo (tal como lhes parece ou como gostariam que [ele] fosse). Aliás, o Novo Normal - que, com diferentes graus de intensidade e de clareza, percebemos à nossa volta - compõe o caldeirão do qual emerge um novo momento da Arte, o qual, por sua vez, o realimenta [o caldeirão], contribuindo para embalar um movimento dialético de desenvolvimento cultural.

Vendas

Não há dúvidas de que estamos diante de um novo momento da Arte. Um momento - que, considerando a forma abrupta e revolucionária como está ocorrendo e, sobretudo, [considerando] a forma como artistas estão reagindo e inovando sua produção artística - marca o início de um novo Modernismo. Neste ponto, vale a observação de que, mais do que um estilo, o Modernismo é um comportamento - o comportamento daqueles que, estabelecendo um marco do tipo antes-e-depois, passam a descrever o mundo de forma inovadora, com níveis próprios de radicalidade, mas, seguramente, diferente da forma como era feito antes. Aliás, o artista modernista não se enquadra no regime da evolução bem comportada observada nos tempos normais, pois, contrariando o modelo dialético de desenvolvimento, pratica a revolução, queimando etapas para romper com o passado (que pode ter ocorrido na véspera), provocando, assim, significativo efeito no desenvolvimento da arte. 

Ainda é cedo para especulações sobre as características do novo momento da arte - se vai ser saudosista para lembrar os tempos de antes da pandemia, se vai ser futurista para antecipar o pós pandemia, [se vai ser] mórbido em reflexo às vidas arrancadas pelo vírus, se vai homenagear a sobrevivência daqueles que escaparam da doença, [se vai] valorizar as linguagens híbridas e dar mais destaque às plataformas tecnológicas; tudo é possível. Certo, no entanto, é que alguma coisa vai aconhecer (e já vem acontecendo) no mundo da arte. 


Na realidade, de tão revolucionários, alguns artistas sequer esperaram pela pandemia para dar primeiros passos nesta nova onda modernista e, antecipando os tempos (como os artistas sempre fazem), começaram a introduzir modificações expressivas nas formas e nas fórmulas das obras artisticas. À propósito, tenho em mãos a 2ª edição do romance 'Enterro sem defunto', do experimentado escritor Daniel Barros, publicada pela Penalux neste 2021, que, pela forma inovadora como apresenta o enredo, o insere na vanguarda deste novo momento da arte. 

Não me refiro à linguagem ágil como 'Enterro sem defunto' é escrito e que faz o leitor devorar o livro em poucas leituras, [não me refiro] ao conteúdo intrigante que desperta o interesse [do leitor] em todas as suas páginas, [não me refiro] às estocadas dadas no modelo politico e econômico que sustenta injustiças sociais, [não me refiro] ao título instigante que prontamente leva as pessoas a imaginar possibilidades, nem, mesmo, à capa que reflete a tensão insinuada por ele [pelo título]. Me refiro à forma como o tema do livro é desenvolvido. Com efeito, desde o início, 'Enterro sem defunto' se bifurca em enredos harmônicos e complementares, dispostos em capítulos que se coleiam e intercalam, dando substância à história que converge para um final surpreendente e que lança as bases para uma possível continuação. 


Dando um belíssimo toque de inovação, ao contrário das obras literárias escritas no gênero Romance, na prática, 'Enterro sem defunto' é formado por dois livros, que se apresentam de forma junta e misturada, relatando histórias que, embora tenham vida própria, se articulam para formar uma única peça literária, cuja exata compreensão dependende da leitura conjunta dos textos que a integram. Nesta perspectiva, além de ser um grande livro, capaz de proporcionar bons momentos de entretenimento e, mesmo, de reflexão, 'Enterro sem defunto' é uma peça literária inovadora, que acrescenta ingredientes importantes ao grande cardeirão no qual borbulham as ideias de inspiração de uma nova fase da arte.

'Enterro sem defunto' é um livro que se insere no movimento das novidades artísticas e coloca Daniel Barros na vanguarda da nova onda modernista que está vindo por aí.



Alexandre Santos é ex-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Enterro sem defunto por Ivan Marinho

 





Enterro sem defunto, de Daniel Barros, representa um salto qualitativo e de expressividade na sua literatura. Marca o leitor com três pontos cruciais: o elemento dionisíaco que humaniza as personagens, com suas paixões, desvarios... o apolíneo, no enfrentamento profissional aos vícios doentios do poder instituído e, unindo os dois, a busca arquetípica da perfeição, da conduta irretocável, da ética e do prazer irmanados pelo bem comum. E nisto, o autor acerta o alvo da ficção, conjumina o inusitado com o extremamente real, deixando, às vezes, o cheiro do sexo e o gosto do sangue no leitor. 

Com linguagem simples, do ponto de vista da leitura, e sofisticada, do ponto de vista temático, Daniel dá outro tiro certeiro no desfecho, fazendo-nos lembrar de Paulo Leminski quando dizia que “Podem ficar com a realidade/ este baixo astral/ em que tudo entra pelo cano/ Eu quero viver de verdade/ Eu fico com o cinema americano”, nos presenteia com o sentimento de justiça feita, tão impróprio para a realidade brasileira, e, com uma sutileza machadiana, convida, perante a perplexidade da possível morte do protagonista, a um exercício de raciocínio lógico que fecha, com maestria, o ciclo de sua criação, nos remetendo do ponto final à capa, ao título. 

Livro ousado e fluente, que motiva a releitura.



Ivan Marinho de Barros Filho

Poeta/Artista Plástico.





https://www.editorapenalux.com.br/loja/enterro-sem-defunto?fbclid=IwAR2CqGshRvbtuzID5kegjQc6_Up3k4WsqwyoK3H9N3teQt8Ry7Xu9qsRUqw

domingo, 18 de abril de 2021

Covid-17 - por Daniel Barros


 

Durante todos esses 22 dias de cama, recluso em meu quarto, o sentimento de acolhimento foi enorme. Foram mais de 450 curtidas em apoio ao anúncio que fiz do nosso acometimento por covid-19 e outros quatrocentos e poucos comentários solidários. Não tenho dúvida de que estas orações, rezas e energias positivas tiveram forte influência em nossa recuperação. A presença de cada um de vocês foi sentida por nós nesses dias de padecimento físico. Cada noite rezei com fé e humildade, pedindo ao Nosso Senhor e à Nossa Senhora que salvasse minha esposa Andréia Pessoa, a mim, meu irmão Ivan Marinho e minha cunhada Felícia Marinho Cunha de Barros, que também foram diagnosticados no mesmo dia em que eu e Andréia. Após poucos dias doente meu irmão, que já teve duas pneumonias, foi internado, então o desespero invadiu minha alma e as preces mudaram, pedi fervorosamente que seu caso não progredisse para um estado mais grave e que os casos de Andréia e minha cunhada não se agravassem. Para mim, naquele momento, pedi que fosse feita a vontade de Deus e, apesar do medo que nos domina nessas horas, supliquei que se alguém tivesse que partir, que esse alguém fosse eu. 

No decorrer dos dias de internação meu irmão foi melhorando a cada dia e nós também, até que no 14º dia minha situação começou a complicar-se. A febre que eu tinha tido apenas nos três primeiros dias, voltou. Junto com ela, tosse, falta de ar e o mais desesperador, a saturação baixou para menos de 90%! E então, passou pela minha cabeça que meu pedido à Nossa senhora havia sido aceito. Medo e desesperança tomaram conta de mim. Retirei rapidamente o oxímetro e deitei de bruços (posição prona) para aliviar a pressão nos pulmões e mais uma vez pedi coragem para entregar aquela situação à vontade de Deus. O mais desesperador era saber que se precisasse de internação e posteriormente de UTI, não teria, pois naquele dia foi anunciado que em toda rede hospitalar do Distrito Federal havia apena uma vaga em UTI, tanto na rede pública como privada. Não foi fácil, mas era o que tinha que ser feito, colocar-me nas mãos Dele. Então, foram novos antibióticos, seis injeções de corticoides, além de duas injeções diárias de anticoagulante, por dez dias, que eu mesmo me aplicava. Eu aplicava também na Andréia, pois não queria que ela tivesse que fazer. E foram exames e tomografias, remédios e mais remédios, um dispêndio médico de quase R$ 4.000,00 (entre consultas, medicamentos e exames) e 10kg a menos (tinha 72 e agora estou com 62kg), quando tudo poderia ter sido resolvido com duas doses de vacinas a um custo de 3,16 dólares da AstraZeneca e em torno de 5,00 dólares da CoronaVac. Infelizmente ou felizmente, não podemos dissociar tudo que está acontecendo da política genocida deste desgoverno, que por diversas vezes se negou a comprar vacinas, estimulou a aglomeração e o não uso de máscaras de proteção, e receitou criminosamente, Cloroquina. 


Existe um ditado que diz: “não há mal que não traga um bem.” Nos dias de agruras foi a leitura, companheira fiel e bálsamo para minha mente inundada de incertezas (nove livros lidos no período), enquanto Andréia se dedicava à pintura de um trabalho em aquarela, pois a óleo poderia ser prejudicial a seus pulmões. Outro fato ocorrido foi o fortalecimento das minhas convicções de que é preciso lutar contra o fascismo, a exclusão social e contra todos aqueles que buscam na exploração do ser humano sua riqueza e poder. Fico imaginando como estão passando por esta pandemia os trabalhadores e toda nossa população massacrada por este sistema econômico, que tem como cerne o acúmulo de capital em detrimento da exploração do trabalho alheio. Sim, agora mais do que nunca estou disposto a lutar por socialismo e liberdade, como únicas formas de libertação da miséria e da opressão de nosso povo. 

Por fim, quero agradecer do fundo do meu coração a dois heróis: doutor Joseph Monteiro de Carvalho, meu amigo de infância, e ao doutor Cassio José Micelli Guimarães que nos assistiram diariamente desde o primeiro dia. Nos momentos de maior aflição foi meu amigo-irmão o doutor Joseph que me tranquilizou com palavras de conforto e lucidez nas orientações médicas e muito além, enviava-me poesias, músicas e muito amor e amizade. Por mais que sejam as palavras minha arte, faltam-me, neste momento, para expressar meu sentimento e agradecimento por tudo que recebi para superar a primeira fase dessa doença miserável. Não poderia deixar de registrar a companhia e cuidados dispensados a mim por minha esposa, vigilante a minha hidratação, alimentação e rigorosa nos horários dos diversos medicamentos necessários para minha recuperação. E mais uma vez, quero agradecer a todos que estiveram comigo espiritualmente em orações e energias enviadas. Muitíssimo obrigado a todos.

Daniel Barros

#ForaBolsonaro 

#LULAPRESIDENTE2022 

#VacinaJá