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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ENTERRO SEM DEFUNTO - João Carlos Taveira

ENTERRO SEM DEFUNTO, DE DANIEL BARROS


                               João Carlos Taveira*


Editora Ler 2011 - Brasília
Daniel Barros não é só uma promessa, mas uma revelação da nova literatura brasileira. E o romance foi o gênero escolhido para expressão de suas inquietações, de seu estar no mundo. Depois do sucesso do livro de estreia (O sorriso da cachorra), chega a este Enterro sem defunto com grande vigor criativo e amadurecido domínio das técnicas exigidas pela modernidade. Sua oficina romanesca, de certa forma, amplia o discurso tradicional na busca de uma dicção própria, em que elementos ficcionais entrelaçam fatos históricos com fatos cotidianos vivenciados pelo autor. A originalidade, todavia, é meta precípua deste alagoano determinado e audacioso.      
O enredo do livro, com utilização de flashback, se desenvolve em múltiplos planos da ação narrativa, para desaguar, como em um filme noir, no suspense, mas sem final feliz. O narrador, embora onisciente, detém-se mais em sugestões do que em afirmações... E deixa tudo em aberto. Cabe ao leitor interpretar o conteúdo e escolher o desfecho que melhor lhe aprouver. 
Ernest Heminway

A linguagem utilizada nunca é rebuscada, embora cuidadosa no apuro vocabular e sintático. Daniel Barros, a partir de suas vivências, como já foi dito, veicula ideias muito próprias acerca do mundo recriado. E, à maneira de um Graciliano Ramos, de um Ernest Hemingway, por exemplo, não esconde o desconforto e o pessimismo diante de certos acontecimentos da vida e se rebela, às vezes, contra soluções inconsequentes do Poder Público. 
Enterro sem defunto, pela ousadia do conteúdo, merece, desde já, lugar certo em nossa estante e deve receber o devido reconhecimento de leitores e de crítica. É o mínimo que se espera.

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João Carlos Taveira
* João Carlos Taveira é poeta e crítico literário, com vários livros publicados, entre os quais se destacam O Prisioneiro, Canto Só, Aceitação do Branco, A Flauta em Construção, Arquitetura do Homem. Tem poemas traduzidos para o Espanhol, o Italiano, o Romeno e o Russo e pertence a várias entidades, tais como Associação Nacional de Escritores, Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e Academia Brasiliense de Letras

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