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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Hora da Guerra - Daniel Barros

Hora da Guerra¹
Daniel Barros




Jorge Amado OST Andréia Pessoa
Pensei em começar esta resenha com: Acabei de ler Hora da Guerra... mas não ficaria bem começar por acabar, principalmente em se tratando desse primor que é o livro que reúne as crônicas, escritas entre 1942 a 1945, e publicadas na coluna de mesmo nome no jornal baiano O imparcial, pelo itabunense Jorge Amado (Vale ressaltar que existe algumas divergências sobre o local de nascimento do escritor. Alguns biógrafos afirmam que ele nasceu na fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus, mais tarde essas terras ficariam para o município de Itajuípe. O fato é que acabou sendo registrado no povoado de Ferradas, pertencentes a Itabuna-Bahia). Nessas crônicas, o autor de Capitães da Areia, demonstra toda sua paixão em defesa da democracia, sua total indignação com o fascismo e com os vassalos da quinta-coluna.
Na ocasião, Amado conclama a todos para combaterem a quinta-coluna, ao nazifascismo e muniquismo. Para Jorge, não importa as armas, desde que lutem, e ressalta a importância dos escritores e artistas nessa batalha: “Estão de armas em punho e já hoje há uma consciência de que a pena ou a máquina de escrever são armas tão mortais e necessárias quanto o fuzil e a metralhadora.” Entretanto indigna-se com a Academia Brasileira de Letras, “...inquérito realizado por uma revista carioca entre os membros da fatal Academia Brasileira de Letras revelasse que os acadêmicos nacionais não tomam perfeito conhecimento da guerra e do que ela representa.” E segue mais adiante sobre um determinado acadêmico: “...não sei tampouco se algumas das condecorações múltiplas e variadas que adornam o balofo peito do acadêmico Gustavo Barroso provêm da Alemanha nazista.”.
A necessidade de engajamento na luta antifascista era primordial, sobretudo, contra a ação da quinta-coluna, para com isso evitar que os quislings (expressão derivada do militar e ex-ministro-presidente da Noruega, Viudkum Abraham Lauritz Jonsson Quisling, colaborador de Hitler e traidor de sua pátria), entregassem nosso país como fizeram na França Pierre Laval e Pétain. Portanto, as crônicas do escritor baiano combatiam apaixonadamente o nazi-fascismo e seus diversos tentáculos representados pela quinta-coluna. 
Vale lembrar que parcelas significativas dos governos latinos eram grandes simpatizantes do fascismo. Na Argentina Ramon Castillo, defendia a “neutralidade” do país, uma política pró-eixo, depois o golpista de 43, Pedro Pablo Ramirez, seguido por Farrell e posteriormente por Juan Perón, continuam a política pro-eixo. No Paraguai Morínigo, prendia todos que combatiam o nazi-fascismo, como também na Bolívia com Peñarando, com discurso na política externa de apoio às Nações Unidas, mas internamente reprimia líderes e intelectuais democratas. Posteriormente o golpe perpetrado por Gualberto Villarroel López, que por sorte dos democratas, durante seu governo golpista não conseguiu apoio nem externo, nem interno, sendo assim praticamente obrigado a convocar eleições.
No Brasil não era diferente, segundo Jorge Amado, o governo nutria inicialmente simpatia pelo eixo, e os “nossos” quislings, oportunistas e traidores de plantão, tendo como líder maior Plínio Salgado, e seus vassalos como Gustavo Barroso e o pequeno Carpeaux, como o chamava Jorge Amado, Otto Maria Carpeaux chegou ao desplante de pleitear censura para traduções e livro publicados por editoras nacionais, e através de nota divulgada por Vítor Espírito Santo que identificou Carpeaux como autor da ideia, houve mobilização dos escritores brasileiros contra tal censura.
O que nos surpreende, é a quinta-coluna brasileira, e hoje os atuais novos nazistas, não saberem o que Hitler fez nos países ocupados e até mesmo nos aliados. Basta observar o tratamento que a Alemanha deu a Hungria, país que lutou ao lado de Hitler, e ao ser ocupado não teve tratamento diferente ao dado àqueles que combateram o fascismo como: Grécia, Polônia, Bélgica. Hoje vejo grupos novos nazistas, cabeças raspadas, tatuagens de suásticas e ódio ao próprio povo. Grupo ignóbil que não tem conhecimento do que o nazismo guardava para nós brasileiros, praticamente todos mestiços. Jovens latinos, empunhado bandeiras fascistas, pensando eles serem brancos arianos, seriam todos jogados em campos de concentração. Não têm conhecimento das leis sancionadas no VII congresso de Nuremberg, sobre quem são considerados os verdadeiros brancos e, portanto, a raça superior. Não conhecem os planos que seriam executados nas colônias da África e America dos Sul. Seis itens, praticamente os mesmos que norteavam o apartheid Sul Africano. 
Fatos característicos dos fascistas e oportunistas da quinta- coluna, são a traição e defesa dos interesses pessoas, em detrimento do seu povo, era isto que desejavam os aliados latinos do nazi-fascismo. Assim são os oportunistas, quando estão por cima, são produtivos, disciplinados, “amigos” dos superiores, e, sobretudo, muito obedientes, mas na primeira possibilidade de queda, traem com facilidade e até com prazer e fingem mudar de ideia, para se aproximar dos vencedores. Foi essa a tentativa da quinta-coluna, quando ao perceberem a derrota do nazi-fascismo, passaram a defender a paz, sob compromissos, entre o Eixo e as Nações Unidas. Na Espanha buscaram essa paz, em Portugal, Salazar, na Itália Pietro Badoglio sucessor de Mussolini. Todos tentaram um acordo de paz, para que a ideia nazista continuasse viva e pudesse recuperar-se, com o tempo, e voltar a aterrorizar o mundo, entretanto os líderes dos principais Países, União Soviética, Inglaterra e Estados Unidos não se fizeram de rogados, e só admitiram a derrota incondicional.
Enfim, Hora da guerra, uma verdadeira lição de engajamento do artista em defesa da democracia, que mostra um Jorge Amado aguerrido e apaixonado pelas artes e pela liberdade.



 ¹Resenha baseado na ideia defendida nas crônicas de Jorge Amado, no livro Hora da Guerra, Companhia das Letras – 2008.




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