Translate

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Mandacarus (Patuá 2025) Uma Obra que Surpreende pela Originalidade - Por Daniel Barros.

 

Mandacarus (Patuá 2025) Vendas  


Uma Obra que Surpreende pela Originalidade

 

Por Daniel Barros *

 

Iniciei a leitura com certa reserva. Tendo acabado de ler A Representação Social do Cangaço, de Rosa Maria Bezerra, e Cangaceiros e Pedra Bonita, de José Lins do Rego, receava uma abordagem repetitiva ou convencional do tema, tão marcante no romance dos anos 1930.

 Leonardo Almeida Filho, no entanto, surpreendeu-me com um romance esplêndido. Embora dialogue com temas semelhantes, destaca-se pela escrita original e vanguardista. A obra não apenas revisita o universo do cangaço, mas o faz de modo inovador, propondo novas perspectivas sobre personagens, conflitos e contextos históricos.

 O autor demonstra rara habilidade narrativa, equilibrando rigor histórico e intensidade literária. Cada capítulo revela nuances que desafiam o leitor a pensar além do óbvio, criando uma experiência envolvente e reflexiva.

 Leonardo Almeida Filho também nos leva a refletir sobre nossas origens. O uso de expressões regionais é preciso e abrangente, resgatando termos que se perdem com a globalização cultural. Confesso certa vergonha por tê-los esquecido; o romance os documenta de forma harmoniosa, integrando-os naturalmente à narrativa.

 O vanguardismo do autor se manifesta em capítulos construídos como parágrafos únicos — não por efeito estilístico, mas pela ausência da necessidade de subdivisões, tão comum em textos contemporâneos voltados a linguagens comerciais. Essa estrutura liberta a narrativa de amarras, evidenciando que a verdadeira arte cria, não repete. Em uma perspectiva moderna, pensadores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus viam a arte como um ato de liberdade e de criação de sentido em um mundo considerado absurdo; Léo nos mostra que, mesmo em um tema já tão explorado, é possível renovar a experiência de leitura com beleza e intensidade.

Se você, como eu, já leu sobre cangaço, seca e êxodo, e teme a repetição, prepare-se para uma grata surpresa: este livro renova o olhar sobre um tema rico e complexo, impondo-se pela originalidade e força narrativa.

*Romancista, contista, pós-graduado em segurança pública e policial há 28 anos.


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

MESA POSTA PRATOS FRIOS

 MESA POSTA PRATOS FRIOS  ( Vendas )




Primeiramente, queria ressaltar a construção de uma narrativa que induz o leitor a “pensar”, e, de certa forma, formular as conjecturas do crime “em conjunto” com os agentes. Como vê-se, por exemplo, na construção do enredo da relação entre os crimes ocorridos – a observação de um modus operandi com regiões de disparos que não podiam ser coincidência, inclusive, regiões que atiradores de elite buscam atingir para evitar reação da vítima, ou seja, quando mais perquirido, a observação de um criminoso metódico e experiente, com habilidades advindas de muito treinamento. Algo que busca o pensamento intuitivo do legente, fazendo este refletir sobre quem cometeu os crimes. Essa narrativa traz à tona uma visão didática do autor (característica docente). O livro, de forma muito fidedigna à realidade policial e que, por ser uma continuação de outro livro, começa em uma situação pós tragédia onde os poderosos deram um recado aos que buscam a justiça pela lei, traz a desconexão com a ideia de uma justiça vendada (imparcial), onde, inclusive é dito no livro, a justiça tem as “mãos livre para desvendarse quando bem queira”. Além do mais, vem também a ideia do pensamento de pessoas corruptas que têm a visão de cidadãos honestos como “oponentes”, ou seja, criando uma divisão entre “nós e eles”, mostrando a ausência de uma consciência de uma só polícia. Percebe-se, também, a covardia dos ratos e a lealdade de companheiros a um policial honrado. Alcides, policial que construiu toda sua história na polícia de forma honesta, tem que tomar uma decisão na qual vai de encontro com seus ideais, pois, ele, um homem que sempre seguiu a lei; que sempre defendera a vida e não a morte, terá que fazer justiça com suas próprias mãos. O livro traz de modo excelente toda a angústia e dúvidas causadas a Alcides após e anteriormente ao primeiro assassinato. Mas, toda o desanuviamento após o segundo ato, muito por conta da ideia de trabalho feito e pelo vislumbre de tempos mais justos, onde aqueles que servem a elite em detrimento do povo sangra.  



Rafael Marinho Cunha de Barros 

Leitor e matemático