A Partitura e o Xadrez
Eu caminhava mais que depressa. Olhava no meu relógio para ver o quanto estava atrasado.
Virei à esquina da minha casa e virei a próxima até chegar à rodoviária. A minha sorte é que eu morava um quarteirão de onde Sergiane estava.
A avistei sentada no banco. Ela abriu um sorriso e arrumou os óculos de armação vermelhos, eu fui com os braços abertos. Senti seu peito sobre os meus e seus bravos se fechando em torno de mim. Eu estava precisando daquele abraço. Meu dia foi uma merda.
— Que saudade eu estava de você — ela disse.
— Eu também estava com saudades.
— Como foi a aula de inglês hoje perguntei?
— Um pouco chata — ela abriu um sorriso o que fez surgir uma covinha em seus rostos.
Sergiane passou mão direita em seu cabelo preto anelado, pegou a bolça e o cadernos que estavam no banco e começamos a ir em direção a minha casa.
O tempo estava fechado. Era um fim de tarde muito bonito com nuvens carregadas e um nublado bem cinzento.
Chegamos a minha casa em menos de quatro minutos. Ela colocou os seus cadernos e a bolça em meu sofá. A primeira coisa que ela sempre fazia era admirar a minha estante de livro, que eu fazia questão de deixar na sala de estar.
— Eu não gosto do jeito que você arruma seus livros — Sergiane preferiu mudar um livro de lugar.
Abri um sorriso e não disse nada. Deixei ela bagunçar os meus livros e entrei na cozinha.
Voltei com pacote de biscoito (daquelas rosquinhas bem tostadinhas e crocantes que eu e ela, tínhamos uma queda) para acompanhar, duas xicaras com chá doce.
— Uai, por que não me chamou pra te ajuda — ela disse apoiando as mãos na cintura.
— Não precisava.
— Hum sei...
Coloquei o pacote de biscoito em cima do tape vermelho, com listra preta da minha minúscula sala de estar. Entreguei a ela sua xicara.
— E aí, quando vai me ensinar o xadrez? — Ela indagou olhando para um tabuleiro encima de um pufe.
— Quando você me ensinar à partitura — retruquei bebericando do chá doce.
— Podemos combinar para próxima quarta-feira, que eu vier para João Pinheiro.
— Combinado — responde erguendo minha xícara.
Nossa amizade era como um moinho movia a força do vento. Podemos viver distantes, mas o sentimento e o carinho são os mesmos até nos dias de hoje...
Raick Tavares nasceu em 1992 em João Pinheiro - MG. Radialista há dez anos, palestrante, colunista e idealizador do projeto podcast Um Livro C/ Café. Atualmente mora na cidade de Paracatu – MG, com a esposa.
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