Voando
Vânia Moreira Diniz
Escritora, poeta, humanista
|
Voei hoje em
direção a um lugar especial, longe do barulho, das buzinas dos carros e da
efervescência que lidera os grandes centros. Imaginei que só o tumulto e o
movimento me deixassem à vontade, mas acordei com a sensação de que precisava
me isolar para compreender o que se passava à minha volta.
Não importava
que fosse domingo, o sol brilhasse luminoso, o tempo estivesse à minha disposição
para usufruí-lo intensamente e a vida atendesse com suavidade os meus desejos.
Não interessava
que o mundo se apresentasse atraente, o horizonte sem fim, as cores
reproduzissem a beleza seleta e maravilhosa que meus olhos sempre buscavam e
que já encontrasse alguma esperança no porvir.
Não me
preocupava com a matéria, as ruas fascinantes, o encontro das pessoas em cada
canto, a ternura de olhos a fitarem o infinito ou a certeza que poderia ser
feliz eternamente.
Não me
incomodava com retrocesso do egoísmo, a presença da generosidade, as juras
transbordantes de carinho, a ansiedade que os dias traziam em suas horas
arrastadas ou a certeza de sensações enlouquecidas.
Precisava volitar
em outras paragens com leveza de quem possui asas, intercalar os espaços e
ultrapassar o vento uivante e ligeiro. Passar bem acima do mar infinitamente
belo senti-lo como o aliado que me conduziria acompanhando-me o vôo ilimitado.
Alcançar as
nuvens, enroscando-me em sua claridade, seduzida pelo prateado ofuscante, alucinada
pelo espaço tentador. E prosseguir meu passeio, bebendo em fontes que
certamente mitigariam minha sede, parando às sombras das árvores, entendendo a voz
enérgica da natureza e encontrando-me com o horizonte que refletiria outro
horizonte inatingível.
E na sequência
de meu caminho chegar finalmente às estrelas luminosas, mergulhar no azul
profundo do céu a refletir a terra linda e impossível de alcançar.
Queria
encontrar-me com meu espírito inaccessível esquecendo dos deveres, olvidando
compromissos e esticando-me nos campos desse espaço que me acolhe em momento de
abstração e recolhimento. Aprofundar-me nos meus próprios pensamentos e
reminiscências.
Preciso voar
com as asas ondulando em movimentos rápidos e graciosos, recebendo emanações do
espírito, recolhendo sensações fascinantes que me farão esquecer vivências
pueris e alternar vibrante entre a vida terrestre e a luz sinuosa das estrelas.
E então
sentir-me plena e realizada, palpitante em minha poesia, vagueando entre o
espírito sonhador e a realidade objetiva e árida.
Deitada sob a
limpidez de um ponto ilimitado eu me curvo diante da beleza e do deslumbre de
cada ponto da natureza e sinto-me privilegiada e agradecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário