Hora da Guerra¹
Daniel Barros
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Jorge Amado OST Andréia Pessoa |
Na ocasião, Amado conclama a todos para combaterem a quinta-coluna, ao nazifascismo e muniquismo. Para Jorge, não importa as armas, desde que lutem, e ressalta a importância dos escritores e artistas nessa batalha: “Estão de armas em punho e já hoje há uma consciência de que a pena ou a máquina de escrever são armas tão mortais e necessárias quanto o fuzil e a metralhadora.” Entretanto indigna-se com a Academia Brasileira de Letras, “...inquérito realizado por uma revista carioca entre os membros da fatal Academia Brasileira de Letras revelasse que os acadêmicos nacionais não tomam perfeito conhecimento da guerra e do que ela representa.” E segue mais adiante sobre um determinado acadêmico: “...não sei tampouco se algumas das condecorações múltiplas e variadas que adornam o balofo peito do acadêmico Gustavo Barroso provêm da Alemanha nazista.”.

Vale lembrar que parcelas significativas dos governos latinos eram grandes simpatizantes do fascismo. Na Argentina Ramon Castillo, defendia a “neutralidade” do país, uma política pró-eixo, depois o golpista de 43, Pedro Pablo Ramirez, seguido por Farrell e posteriormente por Juan Perón, continuam a política pro-eixo. No Paraguai Morínigo, prendia todos que combatiam o nazi-fascismo, como também na Bolívia com Peñarando, com discurso na política externa de apoio às Nações Unidas, mas internamente reprimia líderes e intelectuais democratas. Posteriormente o golpe perpetrado por Gualberto Villarroel López, que por sorte dos democratas, durante seu governo golpista não conseguiu apoio nem externo, nem interno, sendo assim praticamente obrigado a convocar eleições.
No Brasil não era diferente, segundo Jorge Amado, o governo nutria inicialmente simpatia pelo eixo, e os “nossos” quislings, oportunistas e traidores de plantão, tendo como líder maior Plínio Salgado, e seus vassalos como Gustavo Barroso e o pequeno Carpeaux, como o chamava Jorge Amado, Otto Maria Carpeaux chegou ao desplante de pleitear censura para traduções e livro publicados por editoras nacionais, e através de nota divulgada por Vítor Espírito Santo que identificou Carpeaux como autor da ideia, houve mobilização dos escritores brasileiros contra tal censura.

Fatos característicos dos fascistas e oportunistas da quinta- coluna, são a traição e defesa dos interesses pessoas, em detrimento do seu povo, era isto que desejavam os aliados latinos do nazi-fascismo. Assim são os oportunistas, quando estão por cima, são produtivos, disciplinados, “amigos” dos superiores, e, sobretudo, muito obedientes, mas na primeira possibilidade de queda, traem com facilidade e até com prazer e fingem mudar de ideia, para se aproximar dos vencedores. Foi essa a tentativa da quinta-coluna, quando ao perceberem a derrota do nazi-fascismo, passaram a defender a paz, sob compromissos, entre o Eixo e as Nações Unidas. Na Espanha buscaram essa paz, em Portugal, Salazar, na Itália Pietro Badoglio sucessor de Mussolini. Todos tentaram um acordo de paz, para que a ideia nazista continuasse viva e pudesse recuperar-se, com o tempo, e voltar a aterrorizar o mundo, entretanto os líderes dos principais Países, União Soviética, Inglaterra e Estados Unidos não se fizeram de rogados, e só admitiram a derrota incondicional.
Enfim, Hora da guerra, uma verdadeira lição de engajamento do artista em defesa da democracia, que mostra um Jorge Amado aguerrido e apaixonado pelas artes e pela liberdade.
¹Resenha baseado na ideia defendida nas crônicas de Jorge Amado, no livro Hora da Guerra, Companhia das Letras – 2008.
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