Entrevista com Anaximandro Amorim
Anaximandro Amorim viveu, aos trinta anos, uma impressionante experiência de quase morte (EQM).
Para superar as sequelas de um grave acidente de carro, empreendeu uma impactante jornada de
superação pessoal. Uma lição de vida para quem já passou por situações semelhantes, e também para
quem se interessa por espiritualidade, reflexão, religiosidade e outros temas de transcendência e
aprimoramento.
A Vida depois da Luz, Anaximandro Amorim, 1ª Edição, Leya, 2015, 176 páginas.
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Com um ritmo de leitura agradável e uma linguagem simples e elegante, o livro de Anaximandro (Anax, para os amigos), com certeza vale a pena. Convidei o autor capixaba para bater um papo:
1.O livro A Vida depois da Luz narra a quase morte de um advogado, mas também o nascimento de
um escritor. Como foi esse processo?
Foi um processo muito difícil, de reaprendizagem e redescoberta de muita coisa. Reaprendizagem, pois,
eu, literalmente, precisei reaprender a respirar, comer, falar e andar. Redescoberta pois, sem medo de
parecer clichê, quando se vê a morte de tão perto, passa-se a questionar valores, gostos... há coisas que
deixam de fazer sentidos e outras que começam a fazer. Por isso que chamei tudo de renascimento. É
como se fosse passada uma borracha em mim. Foi, certamente, um novo começo, uma nova chance.
Esse processo começa no dia do acidente, em 07/09/09 e vai até hoje. Passei por meses de internação,
um coma, sete cirurgias e, só recentemente, no dia 19/01/17, tive coragem de pegar uma estrada,
sozinho, pela primeira vez. Acho que tudo vai terminar, para mim, quando eu conseguir chegar ao fim
daquela viagem, pois a ideia era chegar até Santa Tereza, cidade nas montanhas capixabas. Quero
refazer esse trajeto. Agora, sinto-me capaz. O dia em que conseguir, terei terminado por completo essa
história.
2. Depois de sua experiência, você estudou muito sobre EQM?
Sim. Precisei até por conta do livro. É uma experiência sobrenatural, algo difícil de ser verbalizado e
ainda cercado de polêmicas. Há uma corrente que nega a existência da EQM, dizendo ser tudo fruto da
atividade cerebral sob efeito de determinadas condições e drogas. A maioria, no entanto, acredita. Os
relatos de quem passou por essa experiência são muito parecidos. Eu tenho certeza de que ela existe.
Minha experiência foi muito real e contundente. Existe, sim, um “lado de lá”.
3. A série The OA, do Netflix, é sobre EQM. Fiquei curioso de saber se assistiu, e se a resposta for
positiva, o que achou?
Não, e agradeço muito pela dica! Vou tentar conferir!
4.Ao ler o trecho sobre a Academia Espírito-Santense de Letras, fiquei curioso sobre como é a rotina
de um imortal. Você poderia dar detalhes sobre isso?
A Academia Espírito-Santense de Letras (AEL) é uma instituição sem fins lucrativos, criada em 1921,
tendo como um dos seus objetivos congregar autores cuja produção literária tenha por base geográfica
o Espírito Santo. Não precisam ser necessariamente capixabas de nascimento, tanto que temos
mineiros e goianos nos nossos quadros, por exemplo. A instituição funciona nos mesmos moldes da
Academia Brasileira de Letras que, por sua vez, tem como base a Académie Française. Trata-se de um
grêmio literário, composto por 40 autores de gêneros e idades diferentes, que se irmanam pelo ideal
das Letras.
Há muita “mitologia” acerca das Academias. Ao contrário do senso comum, uma Academia não é um
prêmio ou um local de vaidade, mas, sim, uma pessoa jurídica com escopos bem delineados. Um deles é
o fomento à leitura e à literatura, no nosso caso, produzidas em solo capixaba. Tanto é que a AEL edita,
anualmente, uma revista, junto com parceiros patrocinadores públicos e/ou privados com a produção
de seus acadêmicos, abrindo espaço, também, para aqueles que queiram participar; há a reedição de
obras raras, necessárias para a pesquisa e também a participação em coleções tradicionais de livros e
revistas da capital e do Estado; A Academia também está presente em concursos literários, saraus
poéticos e na organização da Flic, a Feira Literária Capixaba, maior evento literário do Espírito Santo.
Os acadêmicos são chamados de imortais porque só deixam a academia depois da morte. A
“imortalidade” em questão é da obra. O autor fica imortalizado naquela cadeira, tanto que o próximo a
ocupar aquele assento necessita, obrigatoriamente, citar o(s) anterior(es) em seu discurso de posse. A
entrada se dá por meio de eleição, com a vacância da cadeira. Não há idade, nem mínima, nem máxima,
para entrar e o único requisito é ser escritor. No caso da AEL, é feita uma comissão que dá um parecer
não vinculativo sobre os candidatos, no dia da eleição, sendo livre o voto. Assim, o autor que se sentir
apto pode se inscrever, lembrando que entrar em uma Academia é um ato de muita responsabilidade,
pois é para a vida toda.
5.Quais seus autores preferidos, aqueles que lhe influenciaram?
Tenho vários! Minha primeira paixão literária, por assim dizer, foi José de Alencar. Depois vieram
Monteiro Lobato, Machado de Assis, Vinícius de Moraes, Cecília Meirelles, Murilo Mendes, Adélia
Prado, Clarice Lispector, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, além dos lusófonos não-brasileiros Fernando
Pessoa, Sophia de Mello Breyner Andresen e Mia Couto.
Em língua estrangeira vêm Victor Hugo, Alexandre Dumas, Shakespeare, Molière, Kafka, Camus, Laclos,
Ionesco, Sartre, Foucault, enfim, são tantos que fica até difícil fazer uma lista. Certamente ficou gente
de fora.
Além disso, faço questão de acompanhar a literatura do meu Estado, o Espírito Santo, rica e pujante.
6.Se pudesse dar um conselho aos autores iniciantes, qual seria?
Leiam muito! Não há, definitivamente, escritor que não seja leitor. Recentemente, li uma matéria sobre
autores que não gostam de ler. Isso é uma contradição em termos! Literatura é um produto direto da
leitura e grandes autores sempre foram, antes de mais nada, contumazes leitores!
Não tenham medo de publicar. Não há “hora certa” para isso. Mas saiba que você irá revisar seu texto
zilhões de vezes, antes de chegar a uma fórmula aceitável. Prontos, nunca estamos.
Não ligue para críticas. Sempre vai haver quem gosta e quem não gosta de seu trabalho. Acaso receba
um comentário desabonador, abaixe para o próximo e bola para frente.
Mas, sobretudo, cultive sempre a humildade! Meios artísticos costumam ser locais de egos inflamados.
Não se deixe levar por isso. Ganhar prêmios, concursos, condecorações, são uma honra e massageiam o
nosso eu interior, mas, saiba que, para que isso aconteça, existe um longo caminho pela frente.
Ninguém chega onde chega à toa.
7. A Vida depois da Luz é seu sétimo livro e o primeiro por uma grande editora. Como foi assinar com
a LEYA?
Foi o fechamento de um ciclo para a abertura de outro. Até então, e apesar de já contar com 20 anos de
estrada, eu era considerado um autor “local”. É muito complicado para quem não mora no eixo RJ-SP. E
é até “engraçado” (entre aspas, mesmo) porque, de autor “capixaba”, virei autor “brasileiro”. De uma
hora para a outra! E aí, eu, acostumado com pequenas tiragens, me vejo lido no Brasil inteiro e até em
Angola e Moçambique! Assustador, no início. Mas, muito gratificante!
8. O que podemos esperar de Anaximandro Amorim? Quais suas próximas páginas?
Tenho bastante coisa inédita, material para uns quatro livros, dois romances e dois de crônicas. Tenho
também um livro de contos prontinho. Quero escrever um pouco na minha outra área, linguística, um
livro de língua francesa. Enfim, ficar sem escrever, jamais!
Foi um prazer receber o Anaximandro para essa entrevista, se você quiser continuar esse bate-papo
com o autor, acesse o site http://anaximandroamorim.com.br/ para conhecer suas obras, ler suas
crônicas e outros textos.
Entrevista cedida a Mauricio R B Campos, escritor e roteirista.
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