A primeira publicação de Machado
de Assis foram os versos de amor “Meu Anjo”, publicados no jornal “A Marmota”.
Desde então o mulato de São Cristóvão revelou-se um escritor muito versátil,
tendo transitado por diversos movimentos da literatura de sua época e por
vários gêneros literários.
Um fato não muito conhecido da
obra de Machado de Assis é sua incursão pela ficção científica, quando esse
termo nem sequer existia. Esse fato não só atesta a genialidade do maior
escritor brasileiro de todos os tempos, o imortal fundador da Academia
Brasileira de Letras, como também atesta sua versatilidade.
Trata-se do conto “O Imortal”, o
qual trata de um homem que se vê incapaz de morrer. Ao ler o conto evocamos
figuras disseminadas em nosso mundo de cultura pop atual como o Highlander de
Russel Mulcahy ou o Wolverine de Len Wein e John Romita (Marvel Comics).
O tema da imortalidade é tão caro
à ficção científica que mereceu um verbete na “The Encyclopedia of Science
Fiction” de 1993: “A Imortalidade é um dos motivos básicos do pensamento
especulativo; o elixir da longa vida e a fonte da juventude são objetivos
hipotéticos das clássicas buscas intelectuais e exploratórias”, afirma Brian
Stableford, crítico e escritor inglês.
A fonte dos poderes do herói da
trama é uma poção indígena, o que poderia caracterizar o conto como fantástico
e não ficção científica, não fosse um parágrafo no texto que reproduzimos: “A
ciência de um século não sabia tudo; outro século vem e passa adiante. Quem
sabe (...) se os homens não descobrirão um dia a imortalidade, e se o elixir
científico não será esta mesma droga selvática? ”
O conto foi publicado em 1882,
entre 15 de julho e 15 de setembro, em seis partes, na revista feminina carioca
“A Estação”. O conto é baseado em um outro conto de Machado chamado “Rui de
Leão”, publicado dez anos antes no “Jornal das Famílias”.
As prováveis influências para a
produção dessa obra de Machado foram as fantasias góticas de “St. Leon” (1799)
de William Godwin, “Melmoth the Wanderer” (1820) de Charles Maturin, “The
Wandering Jew” (1844) de Eugène Sue e “Auriol” (1850) de W. Harrison Ainsworth;
ou até mesmo um texto de algum imitador dessas obras que as traduziu sem dar o
devido crédito e publicou-as como sendo suas, o que era muito usual nas terras
tupiniquins de outrora.
Portanto o conto “Rui de Leão” é
um marco da literatura fantástica brasileira, e o conto “O Imortal” é um marco
da literatura de ficção científica brasileira. Os textos se complementam e é
interessante ler ambos em sequência. Abaixo estão os links para a leitura dos
textos, que estão em domínio público:
Contos:
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